A história do design de interiores no Brasil remonta ao período da chegada da família real portuguesa em 1808, quando a preocupação com a ornamentação dos espaços passou a ganhar destaque. Artistas, artesãos, marceneiros e pintores foram os primeiros responsáveis por transformar residências em ambientes sofisticados, atendendo às demandas da nobreza e da elite local. Naquela época, não existia um profissional específico para a função, mas sim uma rede de trabalhadores que uniam técnica e arte para projetar os interiores.
De acordo com a historiadora de design Maria Cecília Loschiavo dos Santos, professora da USP, a prática decorativa no Brasil “sempre esteve ligada a um contexto cultural híbrido, que mesclava influências europeias e adaptações locais”. Essa visão ajuda a entender como, ao longo do tempo, o país construiu uma identidade própria também nos interiores.
O nascimento da formação acadêmica
O marco inicial da profissionalização aconteceu em 1959, em São Paulo, com a fundação do Instituto de Arte e Decoração (Iadê), idealizado pelo cenógrafo italiano Ítalo Bianchi e pelo professor português Álvaro Landerset Simões. O curso tinha inspiração direta na Bauhaus alemã, considerada a primeira escola de design do mundo, e buscava formar profissionais com sólida base cultural e técnica.
Naquele momento, a capital paulista vivia intensa industrialização, tornando-se um campo fértil para a consolidação do design. O Iadê trouxe uma proposta pioneira: aliar ensino artístico, técnico e mercadológico, preparando os alunos para atuar de forma prática em projetos de interiores.
O arquiteto e pesquisador Auresnede Pires Stephan descreveu o Iadê como “um espaço de integração entre o universo da arte, da arquitetura e da indústria, capaz de formar profissionais que iam além do senso estético para pensar funcionalidade e inovação”.
A consolidação da profissão: cursos técnicos e superiores
Apesar de sua relevância, o Iadê enfrentou barreiras políticas e acadêmicas, sobretudo durante o regime militar, que impediu a criação de um curso superior de arquitetura de interiores. Assim, a escola concentrou-se em cursos livres e técnicos, que formaram gerações de profissionais entre as décadas de 1960 e 1980.

Somente a partir da década de 1990 é que o Ministério da Educação (MEC) passou a regulamentar cursos técnicos em design de interiores, reconhecendo oficialmente a importância da formação. Já os cursos superiores começaram a se expandir em instituições privadas, com destaque para o Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, que abriu sua graduação na área.
O reconhecimento legal e os desafios
A regulamentação da profissão demorou a chegar. Foi apenas em 12 de dezembro de 2016, com a sanção da Lei nº 13.369, que o designer de interiores passou a ser reconhecido legalmente no Brasil. A lei definiu atribuições, como planejar, organizar e criar projetos para espaços internos, valorizando tanto estética quanto funcionalidade.
A arquiteta e designer Joyce Diehl, especialista em projetos residenciais e comerciais, avalia que “a regulamentação trouxe mais clareza para o mercado e valorização da profissão, mas ainda há um desafio de conscientizar a sociedade sobre a diferença entre um decorador sem formação técnica e um designer de interiores qualificado”.
A influência do curso pioneiro na cultura brasileira
O legado do Iadê permanece como referência. A instituição abriu caminho para que o design de interiores deixasse de ser visto como atividade secundária e ganhasse status acadêmico e cultural. Seus egressos influenciaram a cena paulistana dos anos 1960, frequentando showrooms de referência como Branco & Preto e Oca, além de contribuir para a difusão de um olhar moderno sobre os espaços residenciais e comerciais.
Hoje, a formação em design de interiores no Brasil contempla tanto cursos técnicos quanto graduações em tecnologia e bacharelado. A profissão ganhou amplitude, atuando em projetos que vão desde residências compactas até grandes empreendimentos corporativos, sempre equilibrando estética, conforto e funcionalidade.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
E-mail: [email protected]