A arquitetura brasileira perdeu um de seus grandes nomes. Aos 100 anos, Carlos Alberto Cerqueira Lemos faleceu deixando não apenas um rastro de obras construídas, mas uma profunda influência sobre o ensino, a pesquisa e a preservação da arquitetura no Brasil.
Figura central no modernismo paulista e colaborador direto de Oscar Niemeyer na execução de projetos como o Edifício Copan, Lemos construiu uma trajetória que uniu prática, teoria e militância cultural em favor da cidade e de sua história.
Um arquiteto entre colunas e palavras
Nascido em 1925, Lemos foi um dos primeiros formandos da Faculdade de Arquitetura do Mackenzie, em 1950 — um momento em que o Brasil via nascer os pilares da arquitetura moderna. Em 1952, assumiu um papel-chave como responsável pelo escritório de Niemeyer em São Paulo, conduzindo a execução de obras que se tornariam símbolos da cidade, como o Copan, o Edifício Eiffel e o Montreal, além de colaborar em estruturas do Parque Ibirapuera, projeto icônico que transformou a paisagem urbana paulistana.
Mas a contribuição de Carlos Lemos ultrapassou os limites da prancheta. Sua carreira acadêmica se desenrolou ao longo de quase 60 anos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde formou sucessivas gerações de arquitetos. Em 2022, foi reconhecido com o título de professor emérito — um marco que simboliza seu papel como educador e pensador da arquitetura nacional.
Do modernismo ao patrimônio: o olhar do historiador
Após o encerramento do escritório paulista de Niemeyer, em 1957, Carlos Lemos seguiu um caminho autoral. Projetou diversas casas em São Paulo — entre elas, a residência do advogado Jayme Alipio de Barros, do político Luís Eduardo Magalhães Gouvêa e a própria Casa Lemos —, além de residências em cidades do interior, como Ibiúna e Ubatuba. Cada uma dessas obras refletia o equilíbrio entre forma e função, típico da escola modernista, com um olhar sensível para o cotidiano.
Foi também nesse período que Lemos se consolidou como pesquisador e defensor do patrimônio histórico brasileiro. Como primeiro diretor técnico do CONDEPHAAT (entre 1968 e 1981), membro do conselho do IPHAN (1992 a 2000) e integrante do CONPRESP (2001 a 2003), ele esteve à frente de decisões fundamentais para a preservação da arquitetura tradicional, dos casarios coloniais aos edifícios ecléticos e modernistas. Seu trabalho ajudou a formar a consciência patrimonial que hoje orienta boa parte da legislação e das práticas de conservação no país.
A arquitetura contada em livros
Carlos Lemos foi também um prolífico escritor e historiador. Publicou mais de 20 livros, entre eles o fundamental Dicionário da Arquitetura Brasileira, lançado em 1972, obra ainda hoje referência para estudiosos, arquitetos e curiosos da história urbana do país. Sua produção editorial não se limitou a manuais técnicos: Lemos escrevia com paixão sobre a evolução da cidade, os estilos arquitetônicos e os modos de morar, sempre com um viés didático e afetivo.
Sua escrita era uma extensão do seu trabalho como arquiteto e professor: clara, acessível e comprometida com a valorização da cultura nacional. Cada livro seu é um registro do olhar atento de quem sabia que preservar a história também é projetar o futuro.
Um legado preservado em imagens, desenhos e ideias
Parte significativa do acervo de Carlos Lemos — incluindo projetos como o do Museu de Arte Contemporânea da USP e cerca de quatro mil fotografias — está hoje sob a guarda da biblioteca da própria FAU-USP, instituição onde sua trajetória acadêmica floresceu. Esse acervo materializa uma vida dedicada ao entendimento profundo da cidade e de suas múltiplas camadas arquitetônicas.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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