A cidade de Curitiba, conhecida nacionalmente por suas políticas urbanas pioneiras, dá mais um passo em direção ao urbanismo sustentável com a implantação dos jardins de chuva. A proposta, aprovada em primeiro turno na Câmara Municipal com unanimidade, insere na legislação ambiental da capital soluções baseadas na natureza que visam mitigar alagamentos, ampliar a permeabilidade do solo e transformar a relação entre o concreto e a água da chuva.
A medida integra a atualização da Política Municipal de Proteção, Conservação e Recuperação do Meio Ambiente e inclui, além dos jardins de chuva, valas verdes, canteiros pluviais e parques lineares como estratégias para enfrentar os impactos da impermeabilização urbana. O projeto ainda precisa ser ratificado em segundo turno, mas já provoca debates importantes sobre as cidades do futuro e os desafios climáticos do presente.
Uma resposta natural às enchentes urbanas
Os jardins de chuva são pequenos sistemas paisagísticos construídos em áreas estratégicas da cidade que funcionam como bacias de infiltração. Diferente de um jardim convencional, eles contam com camadas filtrantes de brita, areia e solo poroso, além de vegetação adaptada para resistir tanto à escassez quanto ao excesso de água.

Quando instalados em pontos elevados dos bairros — locais onde normalmente as enxurradas se formam — esses jardins atuam captando a água da chuva no seu ponto de origem. Isso evita que o excesso de água desça em velocidade até as áreas mais baixas, sobrecarregando redes pluviais e causando enchentes. Trata-se, portanto, de uma medida preventiva, resiliente e de baixo impacto ambiental.
Como destacou a vereadora Laís Leão (PDT), autora do projeto, “as pessoas podem não saber o que é um jardim de chuva, mas sabem muito bem o que é perder tudo em uma enchente”. Segundo ela, Curitiba enfrenta um grave problema de solo impermeabilizado, que amplia o risco de inundações mesmo em chuvas moderadas.
Natureza que ensina: vegetação que filtra, absorve e decora
Além da função técnica, os jardins de chuva valorizam a paisagem urbana, criando ilhas de vegetação que podem ser integradas ao mobiliário urbano. Em muitos casos, bancos, caminhos e iluminação são incorporados ao projeto, promovendo convivência e conforto visual.
As espécies utilizadas são cuidadosamente escolhidas para se adaptarem às condições locais. Em Curitiba, por exemplo, o desafio é equilibrar longos períodos de estiagem com chuvas intensas, algo que exige plantas nativas com alta resiliência hídrica. Essas espécies ainda desempenham papel crucial na filtragem dos poluentes que escorrem das calçadas e ruas, melhorando a qualidade da água que infiltra no solo.
“Esses jardins são um exemplo de como a natureza oferece respostas inteligentes aos problemas que nós mesmos criamos ao longo da urbanização desordenada”, afirmou o secretário de Meio Ambiente de Belo Horizonte, onde a solução também já está em aplicação. “Eles trazem resultados significativos com intervenções simples e acessíveis”.
O impacto nos bairros e a transformação do espaço público
Ao serem implantados em conjunto, os jardins de chuva criam uma verdadeira rede de drenagem verde. Em escala de bairro, essa solução é capaz de reduzir significativamente o volume de água encaminhado às galerias pluviais, diminuindo o risco de alagamentos e tragédias climáticas. Para a população mais vulnerável — que muitas vezes vive em áreas mais expostas — isso representa não apenas mais segurança, mas também justiça ambiental.
Essa preocupação foi destacada por parlamentares durante a votação do projeto. A vereadora Vanda de Assis (PT) ressaltou que “a drenagem urbana, quando bem planejada, beneficia principalmente as periferias, onde a infraestrutura costuma ser mais precária”. Já Marcos Vieira (PDT) lembrou que as mudanças climáticas já são uma realidade visível: “Estamos vivendo temperaturas de quase 30°C em um dia, seguidas por temporais violentos no mesmo final de semana. Prevenir é evitar o sofrimento das pessoas”.
Curitiba como modelo de adaptação climática
A capital paranaense já possui um histórico sólido de políticas ambientais. Segundo dados apresentados durante a votação, somente em 2025 a cidade plantou mais de 125 mil árvores, o equivalente a 68 metros quadrados de área verde por habitante — cinco vezes mais do que a recomendação mínima da ONU. Agora, com a inclusão dos jardins de chuva como política pública, Curitiba amplia seu protagonismo ao transformar espaços urbanos em infraestrutura ecológica.
A implantação dos jardins faz parte também do Plano de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas (PanClima) e deve ser estendida a diferentes bairros, como a região da Avenida Arthur Bernardes, onde a prefeitura já anunciou a inclusão da técnica em obras públicas.
Além disso, o projeto prevê que os fundos de vale — áreas naturais destinadas ao escoamento de águas — sejam priorizados para a criação de parques lineares, com atividades de educação ambiental e espaços de lazer, unindo drenagem, recreação e qualidade de vida.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Enfeite Decora. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em arquitetura, design de interiores e paisagismo, me dedico a trazer as melhores inspirações e informações para transformar ambientes.
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